A filosofia de Jean-Jacques Rousseau
tem como essência a crença de que o Homem é bom naturalmente, embora
esteja sempre sob o jugo da vida em sociedade, a qual o predispõe à
depravação. Para ele o homem e o cidadão são condições paradoxais na
natureza humana, pois é o reflexo das incoerências que se instauram na
relação do ser humano com o grupo social, que inevitavelmente o
corrompe.
É assim que o Homem, para Rousseau, se transforma em uma criatura má,
a qual só pensa em prejudicar as outras pessoas. Por esta razão o
filósofo idealiza o homem em estado selvagem, pois primitivamente ele é
generoso. Um dos equívocos cometidos pela sociedade é a prática da
desigualdade, seja a individual, seja a provocada pelo próprio contexto
social. Nesta categoria ele engloba desde a presença negativa dos
ciúmes no relacionamento afetivo, até a instauração da propriedade
privada como base da vida econômica.
Mas Rousseau acredita que há um caminho que pode reconduzir o
indivíduo a sua antiga bondade, o qual é teorizado politicamente em sua
obra Contrato Social, e pedagogicamente em Emílio, outra publicação
essencial deste filósofo. Ele crê que a carência de igualdade na
personalidade humana é algo que integra sua natureza; já a desigualdade
social deve ser eliminada, pois priva o Homem do exercício da liberdade,
substituindo esta prática pela devoção aos aspectos exteriores e às
normas de etiqueta.
Em sua obra Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade
entre os homens, Rousseau discorre sobre a questão da maldade humana.
Para melhor analisar esta característica, ele estabelece três etapas
evolutivas na jornada do Homem. O primeiro estágio refere-se ao homem
natural, subjugado pelos instintos e pelas sensações, sujeito ao domínio
da Natureza; o segundo diz respeito ao homem selvagem, já impregnado
por confrontos morais e imperfeições; segue-se, então, a condição do
homem civilizado, marcada por intensos interesses privados, que sufocam
sua moralidade.
É neste processo que o indivíduo se converte em um ser egoísta e
individualista, convertendo sua bondade natural, gradualmente, em
maldade. O Homem abre mão de sua liberdade e assim se desqualifica
enquanto ser humano, pois se vê despojado do principal veículo para a
realização espiritual. A solução apontada por Rousseau para esta
situação é enveredar pelos caminhos do autoconhecimento, através do
campo emotivo da Humanidade.
Na esfera da educação, exposta no Emílio, ele teoriza filosoficamente
sobre o Homem. Sua principal inquietação, neste ponto, é saber se educa
o indivíduo ou o cidadão, já que, para ele, estas duas facetas não
podem conviver no mesmo ser, por serem completamente opostas.
Rousseau defende a formação do homem natural no seu lar, junto aos
familiares, por constituir um ser integral voltado para si mesmo, que
vive de forma absoluta. Já o cidadão deve ser educado no circuito
público proporcionado pelo Estado, pois é tão somente uma parte do todo,
e por esta razão engendra uma vida relativa. O aprendizado social,
segundo o filósofo, não produz nem o homem, nem o cidadão, mas sim um
híbrido de ambos. Aliar os dois implica investir no saber do ser humano
em seu estágio natural – por exemplo, a criança –, e o cidadão só terá
existência a partir desta condição, a qual tem como fonte a Natureza e
como fio condutor a trajetória individual.
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