O pensador, mestre, historiador especialista em questões religiosas, mitólogo e escritor romeno Mircea Eliade
nasceu em Bucareste, no dia 28 de fevereiro de 1907, e morreu em
Chicago, no ano de 1986. Em 1970 ele conquistou a cidadania
norte-americana; o intelectual falava e discursava fluentemente em pelo
menos oito idiomas, embora grande parte de sua obra acadêmica tenha sido
elaborada na sua própria língua. Ele se converteu em um dos mais
importantes historiadores e filósofos das religiões do mundo moderno,
integrando posteriormente o Círculo Eranos, devotado a pesquisas
espirituais.
Eliade se dedicou especialmente à cultura oriental, embora sua obra
seja mais abrangente; seu doutorado versou sobre as técnicas iogues,
depois de pesquisas sobre o tema na Índia, ao longo de três anos. As
reflexões deste ícone da filosofia permitiram que o indivíduo
pós-moderno tivesse uma visão mais lúcida e ampla sobre o comportamento
humano no que tange à religiosidade, do ponto de vista de sua dimensão
histórica e sob a inspiração do contexto cultural particularmente
vinculado ao sagrado.
Há polêmicas em torno do legado de Eliade, pois embora ele nunca
tenha se distanciado de sua bagagem filosófica racional, nunca exercitou
exatamente o âmbito da filosofia; se alguns reconhecem sua extrema
significância na esfera das investigações religiosas, outros o acusam de
ter se oposto ao desenvolvimento da instrução e do progresso.
A obra de Eliade foi, em parte, determinada pela visão de outros
pensadores, tais como o teólogo protestante alemão Rudolf Otto, o
historiador e filósofo da religião holandês Gerardus van der Leeuw, o
jornalista e intelectual romeno Nae Ionescu e também pela Escola das
Tradições.
O pensamento de Mircea foi igualmente marcado pela mesma face mística
que move o Fascismo, principalmente a evocada pela obra do filósofo e
poeta italiano Julius Evola, que imprimiu ao século XX uma vertente
neopagã. O romeno tinha uma particular atração pelo esoterismo, em
especial pelo ritual denominado Zalmoxin e seu pretenso monoteísmo.
Este interesse comum entre o filósofo e o movimento fascista
aproximou a ambos mais do que qualquer outro fator político, embora
pareça estranho que alguém com a mentalidade de Eliade, criado em uma
família cristã ortodoxa, tenha flertado com o fascismo. No final da
década de 30 ele atuava como assessor de Ionescu, que em 1938 foi preso
por ser um pretenso integrante da Guarda de Ferro, organização fascista
acusada de anti-semitismo. O próprio Mircea permaneceria em um campo de
concentração por algum tempo.
Poucos anos antes, em 1936, ele fora expulso da Universidade por
prática pornográfica, após o lançamento de seu livro Domnisoara
Christina, no qual discorre sobre questões como a morte humana e o
sentido do erotismo na existência; a protagonista desta publicação é uma
vampira, e ele se inspira em histórias folclóricas da Romênia.
A concepção deste pensador se baseia acima de tudo no universalismo
do elemento religioso. Daí ser possível encontrar em sua obra o apoio
necessário para a necessidade contemporânea de uma relação
interreligiosa. Através de seus escritos o Homem tem condições de
entender melhor o campo religioso, pois neles se revelam as atitudes do
ser diante da morte e sua forma de enfrentar a impermanência humana.
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