Schopenhauer viveu de 1788 a 1860. Nascido em Danzig,
Prússia, lecionou de 1820 a 1831, ano em que abandonou as salas de aula.
Escreveu sua obra prima aos 30 anos, “O Mundo como Vontade e
Representação”, mas não obteve sucesso na maior parte de sua vida. Mudou
para Frankfurt, onde ficou até sua morte. Só obteve reconhecimento em
seus últimos dias, o livro “Parerga e Paralipomena”, uma compilação de
aforismos escritos de maneira cativante e popular, foi publicado.
Com
sua personalidade forte e palavras amargas sobre o filósofo Hegel,
ganhou antipatia no mundo acadêmico. Schopenhauer chegou a dizer que
Hegel era um “charlatão de mente obtusa, banal, nauseabundo, iletrado (…)”.
Outro motivo que provavelmente foi crucial para seu insucesso foi a
audácia de abrir sua filosofia aos pensamentos orientais. Schopenhauer
foi o primeiro pensador ocidental a fazer isto, agregou ensinamentos do
Budismo e do Hinduísmo em seus estudos.
Para Schopenhauer, o mundo é uma representação individual. Em suas próprias palavras: “O
mundo é a minha representação: eis uma verdade que vale para cada ser
vivente e cognoscitivo*, mesmo se somente o homem é capaz de acolhe-la
na sua consciência reflexa e abstrata; e quando ele verdadeiramente o
faz, a meditação filosófica nele penetrou”.
Schopenhauer falava da relação entre sonhos e realidade. Para ele,
seria impossível distinguir as duas condições. A vida seria um sonho
muito longo, interrompido durante a noite por outros sonhos curtos. “Nós
temos sonhos; não é talvez toda a vida um sonho? Mais precisamente:
existe um critério seguro para distinguir sonho e realidade, fantasmas e
objetos reais?”, afirma Schopenhauer.
O filósofo ainda discutia o porquê de todo ser humano ter a vontade
de continuar vivendo. Qual seria o princípio a impelir os homens à
continuação da vida e da espécie? Chegou a conclusão de que nosso corpo é
o único objeto que conseguimos conhecer no universo, pois não o
reconhecemos de fora, mas sim de dentro. Assim, diz que o Eu é a própria
vontade de viver. Segundo ele, nosso instinto de sobrevivência é cego,
mesmo sabendo que o que nos aguarda é a morte certa, nós continuamos a
buscar a sobrevivência.
Em suas palavras: “São dessa natureza os esforços e os desejos
humanos que nos fazem vibrar diante da sua realização como se fossem o
fim último da nossa vontade; mas depois de satisfeitos mudam de
fisionomia”.
Outro tema polêmico levantado por Schopenhauer é o sexo. Em suas
obras, deixa claro que o amor é apenas um truque da natureza na
tentativa de preservar a espécie humana. Sendo este mundo um vale de
lágrimas, a natureza ligou o orgasmo ao acasalamento, assim, no ato
sexual, consegue abstrair a culpa do ser humano quando este faz nascer
um novo espécime.
“(…) todo enamoramento, depois do gozo finalmente alcançado,
experimenta uma estranha desilusão e se surpreende de que aquilo que tão
ardentemente desejou não ofereça nada mais do que qualquer outra
satisfação sexual (…)”.
Sua obra ainda observa outros pontos como a negação da vontade de
viver, que só seria conseguida com a nolontade (não-vontade). Ele
indica, como fonte para chegarmos ao estado sublime de felicidade
(Nirvana), a fuga da realidade com silêncio, jejum, castidade e uma
renúncia sistemática de tudo que é real.
Sua obra influenciou Freud e Nietzche, que o alcunhou o “cavaleiro
solitário”. Schopenhauer morreu aos 72 anos vítima de uma pneumonia.
Apenas para definir melhor a figura de cavaleiro solitário de
Schopenhauer, segue abaixo um texto que comprova sua acidez, um excerto
que consegue, ao mesmo tempo, nos fazer refletir e querer esquecer tudo
que acabamos de ler.
“A mais rica biblioteca, quando desorganizada, não é tão proveitosa
quanto uma bastante modesta, mas bem ordenada. Da mesma maneira, uma
grande quantidade de conhecimentos, quando não foi elaborada por um
pensamento próprio, tem muito menos valor do que uma quantidade bem mais
limitada, que, no entanto, foi devidamente assimilada”.
*Cognoscitivo = referente ao conhecimento e ao aprendizado.
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